" O voluntariado não pode substituir postos de trabalho"
Elza Chambel, presidente do Conselho para a Promoção do Voluntariado. "Passamos da caridadezinha para a cidadania", diz. Há mais de meio milhão de voluntários em Portugal.
Preside ao Conselho Nacional para a Promoção do Voluntariado
desde 2006, Elza Chambel segura as pontas enquanto o novo organismo, instituído
por lei, não é criado. Com a mesma garra e filosofia: ser voluntário é uma
questão de cidadania, diz.
Em que fase de execução está o Plano Nacional do
Voluntariado 2013-2015?
Atenção! Esse plano ainda não está em execução.
Fundamentalmente, é uma boa ideia, mas prevê a criação de um grupo de trabalho,
que ainda não foi designado, a criação de um novo conselho e a extinção de uma
série de organismos, entre os quais, este conselho.
E esse grupo de trabalho, não foi criado porquê?
Não sei. Não faço parte do Governo. É uma boa ideia,
transversal a todos os ministérios, mas não está ainda em funcionamento. O que
eu disse ao ministro é que estaria aqui enquanto fosse necessário.
Mas este conselho está à beira de ser extinto....
Sim, à beira... Mas não se sabe quando. Para já, continuamos
em pleno funcionamento. Disse ao sr. ministro que ficaria enquanto fosse
necessário.
A crise aumentou o voluntariado?
Sim. Verifica-se que há um aumento de voluntários, mas
talvez porque se fala mais de voluntariado. Desde o início que começamos a
fazer divulgação, sobretudo, nas camadas jovens, com o slogan "ser
voluntário é cool!". O Ano Internacional do voluntariado (2011)
impulsionou muito o voluntariado. Temos cerca de 600 mil pessoas a desenvolver
atividades de voluntariado. Estamos a evoluir da caridade para o voluntariado.
Há quem se aproveite desta circunstância de crise?
Há. O voluntariado não pode substituir postos de trabalho. E
isso acontece, por vezes. Quando se fazem inspeções, verifica-se isso. Não nos
compete fiscalizar, mas temos notícia que isso acontece. O voluntariado é para
acrescentar, não é para ocupar o posto de trabalho de ninguém. "Há um
grande risco e é preciso estar muito atento. Não somos nós que fazemos a fiscalização,
é a Segurança Social, e é preciso que fique muito claro que um voluntário é um
voluntário, não é um trabalhador da empresa.
O voluntariado jovem tem crescido?
Muito. Temos a campanha "Ser voluntário é cool" e
muitas adesões.
E o que motiva os voluntários?
Sejamos pragmáticos. Há quem o faça porque atingiu a idade
da reforma e ainda sente vontade de fazer coisas; e há quem o faça porque o
voluntariado permite viajar e conhecer novas culturas, facilita contactos que
poderão ajudar à entrada no mercado de trabalho. Tudo isso é bom!
O peso na economia deste trabalho voluntário está longe
de ser apurado. Que dados lhe chegam?
Está por apurar, de facto. Há um estudo de 2008, da União
Europeia e da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que aponta para 1% do
Produto Interno Bruto (PIB) português.
Cinco anos depois, esse valor estará desatualizado?
Espero bem que sim! Penso que será muito superior.
Que projetos chegaram aqui, ao conselho, que mais a
sensibilizaram?
Muitos. Muitos, mesmo! O mysocialproject, o re-food, sei
lá... a Ajudaris, no Porto. Muitos, mesmo! Há pouco tempo estive em Pern. Sabe
onde é Pern? Não, não é Pernes, que Pernes é em Santarém, na minha terra. Pern
é nos Montes Urais, a 1500 quilómetros da Rússia. Fomos convidados a apresentar
lá os nossos projetos.
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Clara Vasconcelos